Bando sem noção hoje se
completam 40 anos da primeira conquista brasileira do mundial de formula um. O
primeiro título do grande Emerson Fittipaldi. Data esta que fez com que o
Emerson descrevesse via twitter o que aconteceu durante aquele fim de semana. Relato
esse que me fez lembrar os meus tempos de criança e o inicio por essa paixão
que se chama automobilismo. Vamos ao relato do Emerson, tomei a liberdade de
transcrevê-lo para este blog para aqueles que não têm twitter pudessem
saber o que aconteceu há 40 anos.
“Hoje sexta feira há 40 anos,
muita tensão muita pressão, a decisão do campeonato mundial estava muito perto.
O caminhão da Lotus capotou na estrada no caminho de Monza perto de Milão,
perdi o meu carro principal. Trouxeram meu carro de teste da Inglaterra.
Tiveram que trabalhar a noite toda para preparar meu carro de quinta para
sexta, a pressão aumentava. Sexta eu estava muito tenso e o carro não estava
bom! Toda a equipe Lotus muito nervosa, O Collin Chapman genial melhorou o
carro para sábado. A Pressão aumentava, mas sábado o carro melhorou. Estava
bom, mas não ótimo, daria para domingo de manhã melhorar para o warm up. Depois
da classificação, voltando para o hotel, eu questionava: será que daqui 24horas
serei o campeão mundial de F1? Faltavam 20 horas para largar o GP. Comi no
restaurante do hotel um spaguetti pomodoro, carbo para domingo à tarde.
Será a ultima reunião com o
Collin Chapman, o Eddie Dennys chefe dos mecânicos e o talentoso chefe de
equipe Peter Warrs. Para o grande prêmio tínhamos que melhorar a Lotus 72, na
mudança de direção nas gincanas, saia de frente. Colocamos um pouco de asa
dianteira antes de dormir, perguntava e afirmava: o acerto tem que estar melhor
para o warm up de tanque cheio. Queria um carro um pouco de frente com o tanque
cheio, neutro no meio da corrida e um pouco de traseira no fim, assim estaria
perfeito. Meu grande desafio seria o mestre bicampeão Jackie Stewart, será que
ele estava como eu ansioso? Tudo isso passava pela minha cabeça. Outro grande
desafio seria a combinação J.Ickx/Ferrari, sempre andam muito rápido em Monza.
Fui dormir umas 10 e antes de dormir fiz uma oração. Pedi a Deus que me desse
calma e um sono tranquilo para conseguir dormir as 8 horas que precisava para
descansar. Meus reflexos e sensibilidade estavam na superfície, estavam no
máximo da percepção que um ser humano podia chegar. Fui dormir pronto para esse
maior desafio da minha vida. GP da Itália em Monza, decisão do título mundial,
só faltavam 17 horas, Monza me espera.
Acordei 6:30 a.m, senti
borboleta no estomago! Estava só a 7 horas da largada do GP. Dormi muito bem,
mas a expectativa e a ansiedade queriam tomar conta de mim. Meu lado
latino/brasileiro com a origem italiana do lado do meu pai Fittipaldi estava
emocionado demais, o meu lado polonês/russo da minha mãe, Vojciechovski mais
frio e analítico era o que precisava tanto naquele momento. Assim consegui
equilibrar as minhas emoções. Não comi muito no café da manhã, pois nessa época
sempre havia risco de ter 1acidente e se precisasse de cirurgia não poderia
estar com o estomago cheio. Em Monza 1970 perdi um grande amigo e campeão
Jochen Rindt. Antes de ir para a pista tinha que apagar essa memória de 1970,
pois poderia me atrapalhar. Resolvi sair do hotel determinado a usar as 3 armas
fortes que eu tinha: meu sangue italiano, meu sangue russo e o meu sangue
brasileiro. Meu sangue brasileiro, o mais forte, pois nasci no Brasil e aprendi
sempre a improvisar e me adaptar a qualquer situação. Sai do hotel com a faca
na boca. Estava determinado não só a tentar ganhar o campeonato, mais queria
também vencer o GP da Itália.
Cheguei ao box da Lotus com muita fé em Deus.
Cumprimentei o Colin Chapman, o Peter Warr com muito otimismo e entusiasmo,
senti alguns mecânicos me cumprimentarem com um sorriso amarelo, muita tensão.
Sai para o warm up. Tinha que amaciar discos/pastilhas de freio novos. Dei 3, 4
voltas e comecei a acelerar. Colin e equipe melhoraram o carro para a corrida.
O Carro saia um pouco de frente de tanque cheio, mais melhorou muito a mudança
de direção na gincana. Estava muito confiante. Tudo perfeito, carro rápido.
Voltando para o box, senti um frio nas minhas costas. Grande problema, o tanque
de gasolina estava vazando, pânico! Não daria tempo para consertar antes do GP.
Fui para o motorhome e o chefe dos mecânicos Eddie Dennys disse: “vou tentar
trocar e por um tanque novo. Vamos fazer de tudo para você estar no grid.”
Entrei no motorhome, me desliguei de tudo, só pensava comigo mesmo. Não vou
perder o equilíbrio, o carro vai estar pronto. Continuei com o máximo de
adrenalina, todos os sensores do meu corpo a 110% pronto. Fisicamente,
mentalmente e espiritualmente estava pronto!!
Faltavam alguns minutos
antes de fechar a saída do Box quando o Eddie me chamou e disse: “O seu carro
está pronto”. Sentei rápido no meu carro Lotus 72. Tudo sobre medida para o meu
corpo, estava perfeito, mais eu sabia que aquele dia todos aqueles que me
ajudaram desde que comecei a fabricar volante, Kart com Mário Napa e todas as
outras pessoas que me ajudaram ate aquele dia, estariam junto comigo no
cockpit, milhões de brasileiros assistindo. Muita responsabilidade e pressão!
Mas toda essa torcida não só de brasileiros, mas fãs meus naquele momento tão
critico me davam força e confiança.
Alinhei no grid a partir dali
não queria falar com ninguém, só me concentrar na minha missão de vencer neste
dia. Sabia que as 3 primeiras voltas,saindo de 6 no grid tinha que tomar muito
cuidado para não arriscar meu título e o GP da Itália nas primeiras curvas.
Quando completei a primeira volta a equipe me sinalizou Stewart out (fora),
pensei que bom, mas não me conformei em só terminar a corrida para garantir o
campeonato, queria vencer o GP da Itália. Sabia que da metade do GP para frente
iria estar muito rápido, o carro estava ajustado para as ultimas 20 voltas. E
foi o que aconteceu, estava chegando no líder. Icxs com a Ferrari. Ia ser
difícil passar, mas eu estava pronto para esse novo desafio. Já estava bem
perto da Ferrari e ele teve uma falha mecânica e entrou no Box.
A partir dai
tinha que administrar a vitória. As últimas 10 voltas desse GP foram as 10
voltas mais longas da minha vida! No meu subconsciente vieram muitas
perguntas durante essas 10 voltas, o motor esta roncando bem? O cambio engata
as marchas da maneira correta? O Carro não esta vibrando? O freio está bom? A
adrenalina no limite do limite, quando faltavam 3voltas uma mistura de emoções
era muita emoção para um só ser humano. Eu pedia para o meu sangue russo
controlar o meu sangue brasileiro que estava querendo explodir. Emerson fique
frio menos de 3 voltas. Entrei para a ultima volta, o título e a vitoria
estavam bem perto, levava o carro com toda delicadeza e leveza para não ter
nenhum problema de cambio, freio ou motor! Entrando na parabólica, ultima curva
faltavam alguns metros e pensei se quebrar o motor ou cambio consigo com o
embalo atravessar a linha de chegada em neutro. Vejo o Collin Chapman pulando
na pista, jogando o boné para o alto, comemorando não só mais uma vitoria da
Lotus, mais meu campeonato mundial.
Eu não tinha radio, mas estava gritando e
chorando no carro com muitaaaa emoção. Quando voltei foi um fim de semana que
começou. Muito difícil, muito dramático, mas que no fim foi premiado com o
título mundial, quando voltei ao box o publico italiano começou a invadir a
pista. Parei a Lotus na frente do Box, a minha família, meus pais, meu irmão,
Maria helena, era muita emoção, todos gritando e chorando. E nesse momento
queria agradecer a Deus por essa oportunidade, todos que me ajudaram na minha
carreira, a todos meus fãs do Brasil e do mundo que sempre me apoiaram. Ate o
meu grande amigo Braguinha e Lu estavam lá... Que comemoração, que dia
inesquecível e agora se passaram 40 anos desse dia mais a paixão e amor por corrida
de automóvel continua igual."
Depois deste relato, de me
emocionar e chorar, lembrei-me do velório do meu pai em 2008, três semanas após
o Gp brasil. Onde no meio da noite, minha tia me perguntou: "Ávilas, você
ainda gosta de formula um?" Eu prontamente respondi: "Não só
gosto, como vou todo ano a Interlagos." e minha tia retrucou: "
Incrível, quando você era pequeno, você ficava no colo do seu pai sentado no
sofá vendo as corridas sem piscar os olhos e quando o Emerson ganhava, você
pulava do colo dele e ficava na frente da televisão gritando: Emerson, Emerson,
Emerson."
Em 1972 eu tinha apenas cinco
anos de idade e não me recordo deste fim de semana onde o Emerson ganhou o
campeonato, mas tenho certeza que foi um desses dias em que saltei do colo do
meu pai e na frente da velha TV telefunken preto e branco que tínhamos, para
poder gritar sem parar: Emerson, Emerson, Emerson.
Hoje aos 45 anos de vida
enquanto escrevo essas linhas com os olhos cheios de lágrimas saudosas, só
tenho que agradecer o meu velho pai que me apresentou as corridas de carro e ao
Emerson que começou a sedimentar o meu amor por elas. Por isso, como ele
termina seu relato "se passaram 40 anos mais a paixão e amor por corrida
de automóvel continua igual.", em todos os fins de semana que tem corrida,
me sento à beira da TV, Living time e Twitter ligados no PC e minha filha
de quatro anos sentada no meu colo. Porque a sabedoria se passa de pai para
filho e a paixão e o amor por corridas para a filha também, mesmo a contragosto da mãe.
POR:
Ávilas Rocha
10 de set. de 2012
Monza 1972, dois relatos e a mesma paixão.
17:32
No comments
0 comentários:
Postar um comentário